
Título: A Bruxa de Portobello L384
Autor: Paulo Coelho
Editora: Planeta do Brasil
Ano: 2006
Edição: 1
Número de páginas: 293
SAIU NA IMPRENSA
Época / Data:25/9/2006
Sexo, dietas e uma bruxa muito louca
O escritor Paulo Coelho questiona a intolerância religiosa e insinua que Deus era mulher em seu novo romance, 'A bruxa de Portobello'
Por Luís Antônio Giron
O escritor Paulo Coelho, que alardeia ser treinado nas artes da magia, diz em entrevistas que é capaz de fazer chover e ventar. A personagem principal de 'A bruxa de Portobello' (Planeta), 21º romance do autor carioca de 59 anos, consegue realizar uma proeza ainda mais difícil – fazer o sol surgir no cinzento inverno londrino. O novo romance é cheio de episódios mirabolantes, viagens a lugares remotos e diálogos bizarros. Tudo isso acompanhado de elementos que transcendem o gênero terror e remetem ao estilo que lhe deu fama – torrentes de sexo, pregação mística e até sermões sobre a dieta ideal. Por meio de várias vozes narrativas, o romance conta as aventuras de Sharine, mulher que funda uma religião cujo principal propósito é substituir Deus pela Grande Mãe.
A heroína é conhecida por meio de narrativas de pessoas com que ela se envolveu. Sharine é uma bancária órfã, filha de ciganos, adotada por um casal de libaneses na Transilvânia. Trabalhou num banco em Dubai e se transferiu para Londres. As migrações a tornam mística. Rodopia com os surfistas turcos. Estuda com um beduíno. Em Londres, casa-se com um engenheiro para gerar um filho extraordinário, Viorel. Ela resolve então montar um templo num armazém da turística Portobello Road. Como sacerdotisa, prega o amor, o transe da dança e a dieta da moderação.
Como faz há 20 anos, Coelho aborda temas que dão o que falar. Agora põe em xeque o caráter masculino de Deus e a intolerância religiosa. Ele se tornou o escritor brasileiro mais famoso do mundo porque soube captar os sinais dos tempos. O fio que eletriza as multidões de leitores se mantém - a busca do homem por uma razão de existir. Coelho dá seu recado com clareza, apresenta-se como um guru e mantém uma relação direta com os leitores. Vende-se como um autor muito maior que seus livros. Criou um personagem que suplanta sua obra. Nesta semana, 'A Bruxa de Portobello' chega às livrarias do Brasil, de Portugal e 19 países de língua espanhola. Até 2007, terá sido traduzida para 50 idiomas. Paulo Coelho também virou blogueiro. Em junho deste ano, colocou capítulos do novo livro no endereço www.paulocoelhoblog.com. A intenção não era promover algum tipo de interatividade - afinal, o romance já estava pronto desde janeiro e os palpites dos leitores não se traduziram em mudanças no livro. O blog era principalmente uma estratégia para renovar seu prestígio com o público jovem que usa a internet. No Brasil, o romance está sendo lançado numa tiragem de 300 mil exemplares. A Planeta, sua nova editora, reedita outros dez títulos. Desta vez, ele não está no Brasil. Preferiu fazer o circuito Espanha e Portugal. Desde que terminou o romance, saiu a campo para se encontrar com os leitores. 'Quis voltar à vida e comemorar os 20 anos do meu Caminho de Santiago'.
Em 1986, na primeira vez que peregrinou 830 quilômetros até Santiago de Compostela, na Espanha, ele não sabia que rumo daria à vida. Foi atrás da 'lenda pessoal'. Descobriu que sua missão era escrever. De 'O Diário de um Mago', em 1987 (sobre a viagem a Santiago de Compostela), até 'O Zahir', terceiro livro mais vendido no planeta em 2005, ele se tornou best-seller mundial. Mesmo católico, tem preconizado uma nova era religiosa. Para celebrar o êxito, refez o Caminho em abril deste ano. Só que, dessa vez, foi de carro e avião. Depois de Compostela, voou para muitos cantos da Europa, Ásia e África. 'O Caminho agora é global', afirma. No blog, contou a viagem, cada dúvida de fé, cada conversa com o leitor. Esse tipo de encontro ele batizou de 'autógrafo relâmpago' - 'As editoras discordaram porque diziam que não apareceria ninguém', diz. 'Erraram, pois o retorno foi incrível'.
Ele sempre tratou as editoras como coadjuvantes e não lhes dá direito de se interpor entre ele e o público. Toma conta de todo o processo de lançamento de seus livros usando um laptop que carrega a todo canto. O motivo de tanto controle deriva, talvez, do desprezo com que os editores brasileiros o trataram no início da carreira - que ele agora retribui, saltando de editora periodicamente. Ele teve de bancar, em 1982, a edição de seu primeiro livro, 'Arquivos do inferno' (hoje fora de catálogo) e chegou a vendê-lo nas ruas do Rio de Janeiro, interceptando possíveis leitores. Hoje, os leitores esperam em fila para obter um autógrafo. Em maio, ele partiu para uma nova aventura - percorrer a Transiberiana, ferrovia que liga Moscou a Vladivostok, indo de um extremo a outro da Rússia. Parava de cidadezinha em cidadezinha para dar autógrafos aos fãs, em encontros não marcados. 'As pessoas me esperavam nas estações de trem', diz. 'Não há nada melhor que abraçar aqueles que me consagraram'.